Informativo ao povo de Santo Estevão. Nº 01; maio de 2010.
Santo Estevão: terra da prosperidade ou da permanência do ditado “a terra do que já teve”?
Nos últimos meses tenho me questionado muito sobre a situação do município de Santo Estevão, minha terra tão amada e que nunca pensei em deixar, pois vejo um povo que tem grandes possibilidades, jovens que tem buscado meios de formação, um quadro de professores bem formados, bons prédios de escolas, Hospital e PSFs; a cidade está próxima a Feira de Santana( grande pólo do Nordeste brasileiro), não passa por grandes intempéries climáticas, enfim, uma terra que tem grandes possibilidades para se viver e viver com tranqüilidade, contudo o que vejo crescer é o contrário; vejo crescer a desumanização, a desesperança, a predominância da valorização de políticas voltadas para mostrar algo que não está existindo, uma política voltada mais para festas que alienam e não colaboram para a construção de cultura e participação; além disso, vemos o avanço desordenado do tráfico de drogas, que não deve ser tido somente como assunto de polícia, mas como algo causado, entre outras coisas, por uma situação provocada por um vazio existencial e falta de perspectivas de vida. É como se tivéssemos vivendo ainda na Roma Antiga (dois mil anos atrás), em que o imperador Augusto César utilizava a “política do pão e do circo” para mostrar algo que não existia e ocultar do povo o que mais importava: a “verdade” das coisas e evitar que esse se revoltasse.
Diante do quadro que vivemos hoje, só tenho a lamentar, pois de uma forma ou outra ajudei a pintar este quadro que ai está, principalmente pelo desejo de ver nossa cidade prosperar mais , mas o que vejo é um hospital cotidianamente superlotado e sem médicos suficientes para atender a população; quando muito se atende razoavelmente aqueles ou aquelas que chegam morrendo; a grande maioria tem que passar pela humilhação de passar horas e horas de espera, para o médico que não pode fazer muito, já que tem dezenas para atender, nem olhar no rosto e prescrever um remédio tal; vejo PSFs que crianças tem que voltar, mesmo com febre, porque tem que marcar, dentistas que não podiam atender a meses atrás porque não tinham água tratada, pois se assim o fizessem poderiam causar infecções e não cura. Além disso, vejo uma educação que parece estar à deriva, sem ninguém no seu comando e que por isso não vai a lugar algum; vejo os professores serem tratados de qualquer jeito, sem serem valorizados como seres humanos e que para ter um reajuste salarial tem também que se humilhar ou gritar e fazer greve, como todo ano ocorre e infelizmente a sociedade não se junta para reverter tal quadro. O professor não quer aumento de salário, o professor quer melhores condições de vida, o que não é pecado; o professor quer apenas um reajuste, pois o salário mínimo aumenta, o que é justo, e o salário do professor fica congelado, parecendo-nos que a vontade é que o professorado, por mais estudo que tenha, volte a ganhar um salário mínimo. Assim pergunto à sociedade: como pode seus filhos, no futuro, desejar ser professor, já que esses profissionais são tratados como mínimos e não como sujeitos que podem ajudar a melhoria da sociedade. No ano passado, nenhuma comemoração foi feita para o professorado e nem para o funcionário público, ao contrário do que vinha ocorrendo desde 1999. Por que o professor incomoda tanto? Por que ainda existe um conjunto que não aceita tais coisas e questiona? Por que mesmo, até parte do legislativo (vereadores) passaram a perseguir o professorado? A população sabe quanto tem chegado por mês, destinado à educação? Que vereadores tem boicotado os professores? É preciso saber. Nos últimos meses o recurso em dinheiro repassado pelo FUNDEB, beirou a casa dos dois milhões de reais por mês; pouco dinheiro? Sabemos que não. Por duas semanas não houve na Câmara de vereadores o número suficiente para aprovar um reajuste de 4,31% e nós não sabemos o que está por trás disso; nessa semana, quando o projeto foi para a pauta mais uma vez, foi criada uma confusão na dita “Casa da Cidadania”, quando um professor saiu preso e nós também não sabemos o que houve por trás disso, somente sabemos que o projeto, mais uma vez não foi votado por aqueles que a população elegeu como seus representantes. É preciso que os pais procurem saber o que está acontecendo, como está acontecendo, quem está agindo de acordo com os interesses do povo e quem não; quem está lutando pela prosperidade do nosso município e também questionar que prosperidade é essa.
Então digo: não assistamos a isso tudo de forma passiva como se estivéssemos achando tudo normal; é preciso que tomemos uma posição e busquemos uma posição do prefeito, dos vereadores para melhorar a sociedade. Não podemos aceitar que o chiclete-com-banana venha para a cidade no dia 21 de setembro, receba trezentos ou quatrocentos mil reais para tocar duas horas e depois dê um tchau e pronto, quando há atrações de nome nacional e regional que podem fazer excelentes trabalhos nesta data e não cobrar tanto. A idéia é promover cultura? Que se busque a construção de festivais com artistas da região, mesclando com outras atrações e que não vão levar fortunas que poderiam ser gastas com saúde e educação.
Tenham cuidado povo meu, com certas inaugurações, que muitas vezes não partem do governo municipal e sim de projetos do governo estadual e do governo federal; tenham cuidado em quem vão votar nas eleições que se aproximam, para que todos nós não venhamos a padecer. Algum pai ou mãe que ver o futuro do seu filho comprometido e banhado de sofrimento? Então pensem e repensem; se organizem para participar da construção de uma sociedade melhor, sem precisar gritar, bradar, mas questionando a partir do conhecimento de idéias consistentes e coerentes. É preciso agir assim, pois estamos correndo o risco de ao invés de prosperidade, termos saudade da aposentadoria do homem do campo, que outrora podia se adquirir por morar na roça e se colocar como lavrador. Hoje as localidades rurais foram transformadas em zona urbana e muitos não sabem dos perigos que correm;-- corremos o risco de o professor que hoje gasta uma banda de seu salário para pagar um carro novo ou usado, ou até uma Biz, voltar a ir trabalhar nas zonas distantes com uma bicicleta, o que não é humilhação, se por trás disso não existisse um projeto perverso de achatamento de salário e desmobilização da classe e é bom lembrar que tal projeto não é específico de Santo Estevão, é um projeto “arquitetado” pelas políticas do capitalismo neoliberal, o que diz o seguinte: “o setor público é o responsável pela crise e ineficiência e que , o mercado e o setor privado representam a única alternativa para o desenvolvimento,para a eficiência,qualidade e produtividade.(ANDRADE,p.1).
O que se diz é que o professor é culpado pelos problemas da educação; que os candidatos a diretores fazem conchavos com professores para estarem no cargo; ainda dizem que esses candidatos facilitam para os professores, que facilitam para os alunos; colocam todos os profissionais num saco e sacodem e dizem que todos fazem isso, como se hoje existisse vantagem em ser Diretor de Escola. Eu pessoalmente vos digo: nessa atual conjuntura não há vantagem nenhuma; nem mesmo o ideal de construir uma educação melhor e mais digna para as classes populares, que é quem está nas escolas públicas hoje, ás vezes não nos sustentam.
Termino convidando a sociedade a participar de debates diversos sobre a situação dos trabalhadores da fábrica Dass; os estudantes universitários a construir um projeto de discussão para ajudar a sociedade e a eles (as) mesmos (as), construir um Projeto de Lei que transforme o transporte universitário em Política Pública e não permanecer sendo Política de Governo, que a qualquer momento pode virar fumaça ou tornar-se objeto de barganha eleitoral; que os professores se ajuntem de uma forma firme e reivindiquem mudanças significativas na educação como melhorias no salário, respeito, dignidade, melhores condições de trabalho; que a sociedade se organize para questionar do prefeito a atual situação da saúde do município, que está caótica e a desculpa que se dá é que o hospital enche por conta de pacientes de Ipecaetá, Rafael Jambeiro, Antonio Cardoso, que recebem o mesmo que Santo Estevão e não aplicam no que devem. Se assim é, os funcionários do hospital não poderiam fazer uma triagem e dar prioridade ao paciente de Santo Estevão e o prefeito de posse dos dados entrar no Ministério Público para forçar os municípios que não estão aplicando em saúde, assim o fazerem?
Povo meu, vamos reverter esse quadro. Não permitamos que nos façam de bonecos que só servem para dar um apoio ou voto na época da eleição; façamos o que o profeta Isaías colocou: “aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas.” (Ísaias 1:17), nós temos as chaves para abrir as portas que nos é dada por Deus.Estamos numa luta e nessa luta também devemos ter a certeza que o Senhor Jesus Cristo é conosco; ele permite ao homem agir para se corrigir, pois se assim não for também está escrito: “ai do perverso! Mal lhe irá; porque a sua paga será o que as suas próprias mãos fizeram.” (Isaias 3:11)
Sigamos adiante desejando o melhor e lutando para isso, e assim o teremos!
Do professor: José Agnaldo Barreto de Almeida
Mestrando em Políticas Públicas, Gestão do conhecimento e Desenvolvimento Regional pela UNEB
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